O grande amor da minha vida foi, também, o grande desamor da minha
vida. Foi o melhor e o pior. O que mais me deu e o que mais me tirou. O que
mais me mudou.
O grande amor da minha vida nunca teve a noção de que o foi. Se
soubesse, se tivesse essa certeza, não teria feito o que fez. Ou então teria
feito, exactamente, tudo o que fez. O grande amor da minha vida era um
princípe. Encantado. Só lhe faltava o cavalo branco. Mas isso não tinha
importância. No entanto, o princípe, sem cavalo branco, sorriso de menino e
coração mau, era, afinal, um sapo disfarçado. Bem disfarçado. Demasiadamente bem
disfarçado.
O grande amor da minha vida não o soube ser. Não mereceu essa
condição que eu lhe dei. O grande amor da minha vida fez do meu coração um
tabuleiro e jogou com os meus sentimentos. De forma suja. Com muita batota à
mistura. E, no final, ganhou. E levou tudo o que em mim havia. O amor, que era
só dele. O sorriso, que era por ele. Os versos insanos que, tantas e tantas vezes, lhe escrevi.
Graças a ele, ao grande amor da minha vida, perdi a auto-estima.
Senti vergonha de mim. Fui humilhada. Mal tratada.
Graças a ele, ao grande amor da minha vida, vi o meu coração
transformado em pedaços. Pedaços pequenos, muito pequenos, difíceis de voltar a
colar.
Graças a ele, ao grande amor da minha vida, perdi a vontade de
sorrir, a vontade de acreditar, a vontade de viver até.
Graças a ele, ao grande amor da minha vida, fechei o meu coração.
Por tempo indeterminado. E já lá vão alguns anos. E ele continua fechado. Com
medo. Sim, com medo. Porque deu muito trabalho restaurá-lo. Porque foi um processo
doloroso e demorado. E pensar sequer na possibilidade de ele voltar a quebrar
provoca-me arrepios.
Graças a ele, ao grande amor da minha vida, quase desisti de mim.
Quase. Mas, um dia, como que por magia, decidi reerguer-me. Decidi não mais ter
pena de mim. Decidi e percebi que a pessoa mais importante da minha vida sou
eu. E que ninguém, ninguém, nem o grande amor da minha vida, tem o direito de
me anular.
Reergui-me. Lutei para voltar à superfície. Consegui. Com muito
esforço, com muita determinação, com muita força de vontade. Consegui
reinventar-me. Consegui recuperar a minha auto-estima. Consegui voltar a gostar
de mim, mais do que antes, mais do que nunca. Consegui voltar a sorrir. Por
isso, e apesar de tudo, agradeço-lhe. Porque se não fosse esse grande amor da
minha vida, eu não seria a mulher forte que sou hoje. Se um dia voltarei a
conseguir amar verdadeiramente outro grande amor? Não sei. Apenas sei que, o
grande amor da minha vida já não o é.