Era um espaço incomum. Um tempo incerto, sem horas nem esperas,
apenas estar por estar. Ela tinha um coração magoado e incerto. Já nada esperava.
Já pouco sentia. Naquele espaço que era só um espaço e naquele tempo demorado e
inquieto. Ele chegou, como o sol que chega no meio da tempestade, como a
Primavera que tarda mas vem. Ele chegou. E o espaço que era apenas um espaço
deixou de ser espaço para se colorir de encarnado e lilás, amarelo e verde
esperança. E o tempo deixou de ser tempo, rendeu-se aos olhares que se cruzaram,
às mãos que se tocaram como se não fosse a primeira vez. E ela rendeu-se à
melodia. E ele ensinou-a a dançar ao som do bater descompassado do coração. E
ela reaprendeu a sorrir. E ele continuou a sorrir, perdurando o momento além do
tempo, que deixou de ser tempo e do espaço que deixou de ser espaço. E ela
acreditou. Acreditou na verdade. Acreditou no sentir que ele sentia. E ele
acreditou. Acreditou que acreditava que assim deveria ser. E o tempo, que não
era tempo, passou, descansado e preguiçoso, como as manhãs de Domingo, as mesma
que foram partilhadas até à exaustão. E o amor, que não era ainda amor, aconteceu.
Como por magia, como ilusão. E ela deixou-se levar. E ele teimou levá-la, em viagens
pelos céus, por entre as nuvens de algodão, até ao lugar onde dormem as
estrelas e se pode ver o mundo ao contrário. Mas (sempre o mas, sempre o
maldito mas) o rapaz dos olhos bonitos e das melodias doces mostrou apenas meia
verdade. E ela apenas queria uma verdade inteira, por inteiro. E ele rasgou-lhe
a esperança. E ela sentiu o coração quebrar como gelo. Quebrar e cair por
terra, à velocidade das palavras que doeram, que doeram demais, de uma dor que
não se escreve, apenas se sente. E ele prostrou-se por terra. E ela chorou e
partiu o caminho em dois. E então o espaço, o mesmo que deixara de ser espaço,
voltou a sê-lo, cinzento e cor de chuva, frio e solitário. E ela ali ficou, a
lamber as feridas. E ele continuou, na incerteza da certeza, sem saber se ir,
se ficar. E o tempo voltou a ser tempo, voltou a impor os dias que passam e o
amor que não passa. E eles seguiram, por caminhos paralelos. Será que, lá à
frente, quando o espaço deixar de ser espaço e o tempo deixar de ser tempo, se
voltarão a encontrar?
Que post tão bonito... Perdoa-me mas não consigo dizer mais nada.
ResponderEliminarUau... Adorei :)
ResponderEliminarQuem sabe, o futuro às vezes surpreende-nos de formas muito inesperadas :) Adorei este texto, tens imenso jeito para escrever querida Kate :)
ResponderEliminarNunca se sabe...
ResponderEliminarbonito texto :)